terça-feira, agosto 14, 2012

Abrigos dos ventos dominantes
Recuperação da instalação, 16 anos depois de esta ter sido realizada. Quero agradecer aos meus amigos de Casegas e ao meu filho joão a ajuda. sem a vontade delesnao teria arriscado a mecher de novo num trabalho que nasceu para ser efémero.                                                                           




Recordo que esta instalação, faz parte de uma intervenção, Ley, uma linha no Território, composta por quatro construções que se encontram colocadas em quatro pontos de uma linha recta. A distância entre a primeira, na Serra do Pijeiro e a última, no Cântaro Raso, é de aproximadamente 17 kilometros em linha recta.     
Mais informação no 1º vídeo do meu port-fólio de nome LEY

2 comentários:

atumnespereira disse...

Texto escrito em 2006 por ocasião da exposição efectuada na Biblioteca Municipal da Covilhã.

Ley, uma linha no território

1- Passaram dez anos desde que iniciei este trabalho, com a construção no Cântaro Raso do "Abrigo dos ventos dominantes". A construção seguinte foi a "Atalaia dos lobos" entre Casegas e o Sobral e o segmento de reta que une os dois pontos no mapa, serviu-me, utilizando um estratagema da geometria, para determinar outros dois pontos, de intercepção dessa linha com o território (onde construí o "Malhão da Portela" e o "Terreiro da Virgem") e assim construir um alinhamento em que as construções, estão, em teoria, em linha reta, tanto em planta como em corte. Se fosse possível a visão de umas para as outras, estariamos perante uma linha ascencional que comessava em Casegas e terminava na Serra - A grande entidade, geradora de sentidos de toda esta região.

Estas construções, não pretendiam ser originais em termos de forma mas sim, assumidamente, partirem das construções tradicionais dos pastores desta região - Os "Malhões" e outro tipo de construções primitivas. Com a Land Art culminou toda uma tradição que partia dos monumentos da antiguidade erguidos para reafirmar a cultura dos povos que os criaram, até chegar a este último estádio da colonisação conceptual e física atravéz da arte do território como Natureza.

atumnespereira disse...

Texto escrito em 2006 por ocasião da exposição efectuada na Biblioteca Municipal da Covilhã.

Ley, uma linha no território

2 - Em termos gerais, é possível a naturalização do artifício artístico quando este se concidera, desde perspectivas naturalistas, como uma manifestação dos processos e das leis da natureza (executada pelo ser humano) ou então, quando, desde perspectrivas materialistas, é tomado como o resultado de circunstâncias tão frágeis, aleatórias e casuais como as que determinam o surgimento de qualquer ser da Natureza. No meu caso não considero que haja excisão entre o homem e a natureza. Concidero que o Homem, quando actua, está a ser natureza, ou dito de outra forma está a fazer aquilo que é "natural" que faça. Considero então artificial a distinção entre cultura e natura e considero ainda que aquilo que é "natural" na Natureza é o artifício.

3 - O mundo rural, tal como o mundo urbano o imagina, não existe e pode bem nunca ter existido. O que tem existido sempre é uma imagem do rural construida pelo urbano, e que este tenta a todo o custo que se mantenha. O mundo rural não construiu un discurso sobre o seu próprio mundo, ou seja, o que temos são vários olhares sobre o mundo rural - etnográficos, antropológicos, sociológicos, estatísticos, etc - e que constroem uma imagem sobre este.
A imagem corresponde à realidade?
A imagem é só isso, uma imagem.
O mundo urbano ao longo dos tempos foi descrevendo o mundo rural ora como a reserva moral e cultural, ora como o culpado do atrazo civilizacional. O mundo rural, comumente idealizado e comparado com a arcádia, tal como o mundo urbano, é um mundo cão. Tenho-me dedicado a explorar a cultura rural de que me julgo herdeiro e devedor. Nesta, tem-me interessado compreender as relações que as comunidades estabelecem com o território, com as plantas e com os animais, assim como o quanto de universal existe na condição humana de cada ser. As práticas agrícolas, tão importantes para a paisagem que resulta da interacção entre os seres humanos e o território, têm sido aprendidas, compreedidas e utilizadas na minha prática artística. Os próprios intrumentos usados, que tenho recolhido e guardado, são eles mesmos objectos interessantes não só pela relação que estabelecem com o corpo, com a terra e as plantas, mas também pelas possibilidades semânticas que nos emprestam. Um dos "problemas", que me tem ocupado muito ultimamente, é a questão do território. E digo território, exactamente por querer diferenciar este do tema da paisagem ou até desse albergue espanhol que é a palavra natureza. O discurso que eu elaboro, situo-o dentro da disciplina da escultura com tudo o que esta palavra também transporta e proponho uma nova expansão de campo. Assim, nem arte como imitação da Natureza, nem arte como Natureza, nem Natureza, enquanto não se aceite - coisa improvável - o artifício como única Natureza. Quando tal suceder, teremos expandido ainda mais o campo e teremos que descobrir todo um léxico novo para nomear essa nova realidade.

João Pereira, Casegas, junho de 2006